domingo, 27 de janeiro de 2013

Incêndio em Santa Maria/ RS



Tem dias que ficam marcados na memória da gente. Alguns marcam por terem sido perfeitos, românticos, uns marcam por terem mudado a vida da gente e uns marcam de verdade, marcam de tal forma que deixam marcas que ninguém jamais vai poder dizer que vai esquecer.
No dia 26 de janeiro, sábado, eu sai com os meus amigos, estávamos sentados em um determinado lugar de nossa cidade, que por sinal é o nosso cartão postal, e lá reclamávamos, pedíamos que a cidade mudasse, que a gente fosse para outros lugares, festas diferentes, lugares, pessoas, ficamos nessa conversa um tempo e a noite continuou, nos divertimos, dançamos, e eu cheguei em casa 6 horas e fui dormir. Ao me acordar fui em direção a cozinha, me assustei ao ver minha mãe em pleno domingo ouvindo uma certa radio e sem me dar um único oi ela me disse:“ Em santa Maria mais 100 jovens morreram em uma festa” no mesmo instante eu mandei ela parar, e fui para meu quarto e pensei, "eu reclamei de onde eu estava no momento em que muitos jovens saíram pra se divertir e ali encerraram suas vidas".

Eu passei o domingo inteiro sentindo em mim um peso inexplicável, me senti sufocada, com vontade de abraçar cada mãe e pai que perdeu sua filha ou filho neste incêndio. Eu olhava para a televisão e eu via pessoas correndo, fumaça, eu via tristeza, dor, lagrimas de quem estava vendo vidas se indo, e eu estava ali sentada lembrando de quando eu reclamava que queria ir em uma festa diferente. O dia inteiro eu vi reportagens, número de vitimas aumentando, eu vi uma cidade se acabando por uma festa, por uma festa que tinha somente uma porta de entrada e que no final acabou sendo só isso para alguns, pois muitos ali ficaram.
Eu sei que sou mais uma jovem meio a tantas que está sentindo uma dor dentro de si, muitas como eu passaram o dia postando algo sobre o ocorrido, prestando seu apoio, deixando seus sentimentos, e eu me junto a estas pessoas, meu coração apertado, pequeno se junta a família de cada jovem que se foi. Apesar de nenhum familiar de quem partiu saber da minha existência eu sinto por cada um deles, e o mais impressionante é que eu sinto de verdade,  e essa dor que eu digo estar em mim é real, ela é forte e não é besteira e nem imaginação, não estou somente comovida pelo fato, não, eu sou um ser humano, sou uma jovem de 17 anos que dorme e sonha com o futuro para si e hoje mais de 200 jovens tiveram seu sonhos cancelados, impedidos por uma fatalidade. Mais de 200 vidas acabaram dentro de uma boate, atirados no chão, como eu não iria sentir esta dor ? Pode ter pessoas que não tenham se abalado tanto, pois é dessa forma que eu estou, completamente abalada, mas eu não julgo, cada um tem um coração e uma alma, e o meu coração é intenso e por isso ele dói hoje.

Uma cidade amanheceu triste em um domingo qualquer, uma cidade referência , coração do nosso estado, no dia 27 de janeiro de 2013 se abalou, e junto disso o Rio grande do sul inteiro e talvez o mundo parou para ver o que estava acontecendo, aqueles mais sensíveis fizeram sua parte, oraram, rezaram, choraram, fecharam seus olhos e pediram para o conforto de alguma forma tomar o coração dos pais que perderam seus filhos.
De forma alguma eu quero fazer apelo, chamar atenção das pessoas, querer me fazer de sentimental, não, eu não quero nada com este texto só quis desabafar, escrever a minha dor e deixar as palavras de algum modo me confortarem  pois eu não faço ideia de como aquela cidade e aquelas pessoas estão, a dor que eu sinto não é a mesma deles mas é forte também e dói. Eu não consigo explicar ao certo, mas eu fecho meus olhos e tento imaginar aquele momento, e pra mim não consegue ser real, eu não consigo acreditar que chamas de fogo invadiram aquele ambiente e envolveram pessoas e ali acabaram com aquelas vidas, pra mim isso não é verdade, e eu tento me colocar no lugar de pessoas que estavam vendo isso acontecer, o que pensar vendo isso ? é um choque sem explicação. Eu na sala da minha casa via os bombeiros e policias e já fechava os olhos e respirava devagar porque sentia meu peito doer, imagine, uma mãe estar lá assistindo tudo aquilo, uma mãe que colocou seu filho no mundo, e que simplesmente se foi.
Eu não consigo dizer que felizmente que alguns jovens sobreviveram, me deixa muito feliz saber que vidas foram salvas, mas eu preciso encontrar outra palavra para descrever isso, não é ignorância da minha parte, não, mas eu não consigo explicar muita coisa. Alguns pais vão poder abraçar seus filhos, e agradecer a Deus por eles estarem vivos, e estes  irão abraçar seus pais de uma forma que nunca os abraçaram antes.

Escrevo este texto na madrugada de segunda as 2:50 da manha, eu do fundo do meu coração peço pra que Santa Maria seja inundada pelo carinho de todos que sentiram esta perda. Espero que a minha dor chegue em cada familiar como um curativo,uma ajuda,  se há que existe. Que estes pais encontrem paz, conforto, que eles consigam lembrar de seus filhos sem pensar no dia 27 de janeiro. Tudo está recente e certamente até a poeira baixar muitos corações vão sofrer, muitos olhos irão passar dias jogando lagrimas pelo chão, muita gente estará assim como eu, sem saber direito se o que houve é real ou não, por outro lado, sobreviventes irão agradecer por sua vida e irão lembrar para sempre daqueles que se foram, e eu queria por tudo neste mundo colocar a minha mão no coração de cada um desses jovens e faze-los se acalmarem, depois disso eu daria um grande abraço mágico em todos os familiares, infelizmente eu não tenho como ajudar da forma que eu queria, mas eu vou pensar em cada umas dessas pessoas, mesmo sem saber quem são e vou acreditar que Deus estará no lado de cada uma, e ele sabe o que faz.

Meu nome é Bruna, eu tenho 17 anos, e eu hoje vou dormir com o coração apertado, e sentido muito por não poder ajudar quem precisa.



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